Não há dúvidas de que o momento que estamos vivendo vem sendo o mais desafiador de nosso tempo. Manter-se em equilíbrio na posição de liderança de grandes organizações não está sendo, portanto, tarefa simples. Estar à frente de corporações, muitas vezes me faz lembrar as cinco provas de Ironman que fiz, pois a maneira como sempre encarei as provas de Ironman é também a maneira como eu trabalho: fazer tudo o que for possível, dentro do meu melhor. A diferença é que a pandemia nós não escolhemos passar. É necessário esclarecer o que é Ironman, ou também conhecido como triathlon: uma modalidade esportiva que reúne natação, corrida e ciclismo, em sequência, sem pausas: 3,8km de natação, seguida de 180km de ciclismo e 42km de corrida, para encerrar.
Já fiz cinco Ironman’s e, apesar de na época lidar com muita alegria e felicidade, entendendo o privilégio que eu tinha de poder treinar e fazer provas; a dor, a superação de crises e alguns momentos tensos me trouxeram lições. Hoje, elas vêm à tona, para conduzir este momento que estamos passando. Nenhuma prova de Ironman se equipara à insegurança perante o desconhecido. Quando as primeiras notícias sobre a pandemia chegaram ao Brasil, o grande medo das empresas era, simplesmente, quebrar. Lembro-me claramente que minha primeira preocupação foi: como faríamos para manter as empresas funcionando, fonte de renda básica para milhares de pessoas, direta e indiretamente.
O imprevisível
Por mais que tenhamos trabalhado ou treinado, lidar com o imprevisto, o imprevisível ou o incontrolável, é condição “sine qua non”. É a tempestade no dia da prova, o mar revolto te dando um caldo, o pneu furando, a cãimbra te pegando no primeiro quilômetro da corrida, um pé quebrado na véspera da prova (sim, isso já me aconteceu, eu achava que era uma tendinite e acabei a prova me enganando com pequenas metas: “vou até o próximo posto de água” – e assim fui até terminar). Mas de todos estes imprevistos, estar face a face com uma situação emergencial, como a de não saber se sua empresa irá sobreviver, é um fator incontrolável que assusta. Por isso é tão importante, nestas horas, ter o instinto de sobrevivência. É fazer de tudo para salvar as pessoas. É ter o ombro deslocado por quatro vezes no meio do mar e estar prestes a se afogar, no meu primeiro Mundial de Ironman no Hawaii: não tive dúvidas que eu precisava nadar, nadar, nadar. E assim foi nas empresas que trabalho: vamos pensar em como podemos sair vivos desta. Vamos nadar, do jeito que der.
Devemos mentalizar também que, assim como o Ironman, a pandemia é uma prova longa. Ao invés de pensar em chegar ao fim da maratona, nos Ironman’s sempre pensei em pequenas metas, vivendo o momento. Uma braçada por vez, um passo atrás do outro. Não pensar no fim, mas no momento, pois isso faz uma baita diferença para a cabeça. Não conto os quilômetros ou os dias que faltam para tudo acabar. Assim como estar preparado e treinado para um Ironman, é importante ter planejamento e organização nas empresas. Dessa forma, é pensar em estratégias e ações para o momento da turbulência. Cada momento é um momento que precisa ser vencido, é a gestão da crise, é entender o que está acontecendo, agora, no mercado. É sobreviver.
A resiliência
Esta palavra tem um significado importante, atualmente, e também no Ironman. Ser persistente, não desistir, seguir na batalha, é importante. Falando do Ironman, mais uma vez, é lógico que precisa ser resiliente para se submeter a um desafio desta amplitude por vontade própria. Por isso, quando a tempestade vem sob esta forma que vivemos hoje, esta chave da resiliência se liga automaticamente no meu cérebro. É importante estar preparado para descansar, mas não para desistir. Nesta prova tão grande que está sendo a pandemia, maior que qualquer Ironman, é pensar em cruzar uma distante linha de chegada, não sozinha, e sim com um time de pessoas, de empresas e organizações, que junto comigo, lutam todos os dias. Para um líder, é necessário ter equilíbrio racional e emocional para saber com exatidão todos os custos das oportunidades e calculá-los rapidamente.
A natureza bela e selvagem
É impossível não ter uma crise existencial, no sentido filosófico da palavra, ao pensar sobre a natureza, tanto num Ironman quanto, principalmente, na situação pandêmica. Enfrentar a natureza, seja nadando no mar enfurecido, pedalando sobre a lava vulcânica ou vivendo sob o perigo de um vírus ainda desconhecido, exige respeito, consciência e medo, que te levam a um certo conservadorismo. Pois nós nunca sabemos o que nos espera no quilômetro 36 da maratona. Por isso, sejamos sábios para respeitar a imensidão da natureza de nosso planeta e fazer as escolhas certas, em cada etapa desta longa corrida pela vida. Assim é, também, na vida empresarial. Apesar dos perigos, tanto nas provas como nas empresas, eu tenho sempre um lema: seguir feliz e sorrindo, com alegria e positividade. Sabemos que o caminho está sendo longo e árduo, mas é assim o caminho até as estrelas, como diz a máxima, “per aspera ad astra”.